Projetos de Pesquisa
Movimentos negros x pensamento branco: etnografando o enfrentamento ao racismo
Pesquisadora: Ana Cláudia Cruz da Silva
Este projeto de pesquisa parte de uma concepção ampla de movimento negro, concebendo-o no plural e designando as mais diversas práticas organizadas e efetuadas por coletivos no enfrentamento ao racismo e às desigualdades por ele provocadas. Ele abarca diferentes frentes de pesquisa em diferentes campos e propõe, por um lado, a reflexão a respeito de valores, ideias, concepções e categorias utilizadas por esses movimentos e, por outro, suas consequências em instituições, na produção de políticas e visões de mundo. Assim, longe de ser um projeto que investiga o "pensamento" e a "cultura" negros, sua proposta é refletir também sobre o pensamento branco e o mundo que ele tem produzido, tendo o racismo como parte constitutiva. Trata-se de compreender as relações raciais como relações sociais de poder. Alguns desses campos de trabalho são a análise e produção de materiais didáticos buscando contribuir com a efetivação das Leis 10.639/03 e 11.645/08 que tratam da obrigatoriedade do ensino da história e da cultura africana, afro-brasileira e indígena; as ações afirmativas, especialmente na forma de cotas raciais no ensino público secundário e superior e de cotas raciais epistemológicas; grupos culturais negros; projetos sociais de base e atuação negras; territórios negros; coletivos estudantis negros; representatividade negra em diversos campos de atuação profissional, entre outros. O projeto reúne pesquisadores e estudantes que privilegiam a etnografia para o entendimento dos processos em curso. Desenvolve-se no âmbito do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão em Ciências Sociais - LEPECS e do Cosmopolíticas - Núcleo de Antropologia, ambos da Universidade Federal Fluminense.
Ontologias políticas e movimentos minoritários
Pesquisador: Antonio Rafael Barbosa
Este projeto busca reunir pesquisas etnográficas, distintamente situadas, que se articulam em torno dos seguintes eixos temáticos: modos de subjetivação, corporalidade, práticas políticas. Pretende-se promover conexões transversais entre movimentos minoritários; resistências políticas contra hegemônicas; cosmopolíticas e tradições de pensamento ameríndias e afro-brasileiras. O objetivo pretendido é o de fazer avançar as discussões recentes sobre algumas antinomias antropológicas, tais como: ontologia e epistemologia; natureza e cultura; política e subjetividade, entre outras, a partir das experiências etnográficas dos pesquisadores que fazem parte do projeto.
Antropologia e educação entre-corporal
Pesquisador: Célia Gouvea Collet
O projeto Antropologia e Educação entre-corporal propõe pesquisar-criar um campo na antropologia, na antropologia da educação e na pedagogia que nos permita exercitar a prática anti- colonialista de recuperarmos nosso corpo como espaço de existência, de política e de conhecimento. Ao nos en-corporarmos também fazemos o importante movimento político de continuidade com o corpo da Terra, o corpo comunitário, e com os outros corpos vivos e não vivos.
Diversidade sexual e de gênero entre camponeses e povos tradicionais
Pesquisadora: Graziele Dainese
O presente projeto tem como objetivo fazer um mapeamento das problemáticas desenvolvidas no campo de estudo voltado ao tema da diversidade de gênero e sexualidade entre os povos camponeses e tradicionais. Atentas às redefinições teóricas e empíricas provocadas pelas diversas ênfases da crítica feminista (Strathern, 2006; hooks, 2015; Mahmood, 2006; Blackwood, 1999; Rich, 1980), nos últimos dez anos observamos uma disseminação de artigos, teses, livros e dissertações voltados à pensar a lacuna dos problemas do sexo e da sexualidade em etnografias e estudos empíricos dedicados a esses coletivos. Um primeiro olhar indica que diferentes autores destacam a importância de construir um conhecimento mais acurado das variações erótico-afetivas na composição das existências na terra e no território. Reconhecem que, se por um lado, os estudos sociológicos e antropológicos elaboraram aportes relevantes para entender a construção do gênero (vista em intersecção com o trabalho na terra e as realidades do parentesco, da família e da comunidade), por outro, dedicaram uma ênfase demasiada e restrita ao arranjo heterossexual e cisnormativo nas tessituras das relações afetivas, conjugais e sexuais. Partiremos de estudos publicados em periódicos nacionais, os quais se orientam pela perspectiva das ciências sociais (principalmente, antropologia e sociologia) e que tratam de experiências conhecidas em solos brasileiros. [Bolsista PIBIC 2021/2022 - João Pedro de Sá Monteiro]
Política do gênero entre camponeses e povos tradicionais do Brasil
Pesquisadora: Graziele Dainese
O projeto de pesquisa tem como objetivo fazer um mapeamento das problemáticas desenvolvidas num campo de estudo voltado ao tema das relações de gênero experimentadas em contextos camponeses e de povos tradicionais. Nesse sentido, nosso foco são trabalhos realizados nas ciências sociais (principalmente a antropologia e a sociologia), tendo em vista a atenção especial dessas disciplinas sobre dinâmicas e processos de diferenciação social vividos no meio rural, que por sua vez, encontram no gênero um suporte significativo para a classificação e hierarquização de pessoas, lugares e práticas. A proposta é comparar diferentes materiais empíricos a fim de compreender como esse tema vem sendo discutido e pensado quando se trata de conhecer modos de vida orientados por relações específicas com a terra e o território.
Partiremos de estudos realizados em solos brasileiros, cujas propostas invistam sobre as relações entre os gêneros vistas em suas diversas intersecções (família, parentesco, comunidade, política, casa, pessoa e corpo). Com essa proposta pretendemos construir fundamentos para desdobramentos analíticos futuros, ao buscar, a partir desse mapeamento, elaborar um arranjo de problemáticas que sejam significativas para o conhecimento das experiências camponesas e tradicionais vividas em localidades rurais do estado do Rio de Janeiro.
Antropologia Política da Amazônia Indígena: das cosmopolíticas indígenas às políticas públicas
Pesquisadora: Oiara Bonilla
A pesquisa visa aprofundar a problemática geral da transformação indígena através do estudo especificamente focalizados nas dimensões políticas da vida contemporânea dos povos indígenas. O objetivo é etnografar a articulação da cosmopolítica nativa, isto é, das múltiplas relações com a alteridades humanas e não-humanas, indo da escala intra- e intercomunitária até as relações com os não indígenas e os espíritos, com as políticas públicas voltadas para os povos indígenas, isto é, as relações com órgãos do Estado e para-estatais. O objetivo é descrever e analisar os contextos onde a política indígena e a política do Estado se encontram, considerando que a política indígena engloba todos esses aspectos, e abrange todo o espectro dos espaços de poder. No caso paumari, uma chave etnográfica para abordar a questão está situada no campo da vida ritual onde a figura do predador e do patrão, assim como a relação de predação, de sedução, de parasitismo e de sujeição são elaboradas.
Publicações
Ana Carneiro, Dibe Ayoub, Graziele Dainese, John Comerford
, 2022. Casa, corpo, terra, violência. Abordagens etnográficas. Rio de Janeiro, Editora 7 Letras. Em pré-venda.
Se a etnografia é considerada como o "retrato" de um povo,
esse livro pode ser comparado a um álbum de fotos, mas não um qualquer -
uma notável e singular coletânea de estudos antropológicos
desenvolvidos a partir de comunidades camponesas ao redor do Brasil.
Casa, corpo, terra, violência traz várias reflexões sobre o ambiente rural, ampliando caminhos para novas perspectivas de pesquisa etnográfica. Um "álbum" de estudos perpetuado na história das ciências sociais capaz de instruir substancialmente acerca de questões tão relevantes do campesinato brasileiro.
Oiara Bonilla, 2022. Des proies si désirables. Les Paumari d'Amazonie brésilienne. Collection Les Anthropologiques. Toulouse, Presses Universitaires du Midi.
S'assujettir à l'Autre en se plaçant constamment dans une position soit
de victime, soit de subordonné : telle est l'étrange disposition
collective des Paumari, peuple autochtone de l'Amazonie brésilienne. À
l'encontre de l'éthos de la prédation (par le raid, la guerre, la
capture de biens et de personnes) qui prévaut parmi les sociétés
amérindiennes de la région, les Paumari affichent et pratiquent
ostensiblement une « culture » de la soumission, tant dans leurs
rapports avec les autres groupes humains qu'avec les non-humains et les
entités invisibles. Leur mythologie, leurs rituels du cycle de vie,
leurs activités économiques, tout converge pour faire d'eux des proies,
tributaires d'Autres qui occupent de façon systématique la position de
prédateur, de patron, de familiarisateur. Il n'est pas jusqu'aux
relations de parenté internes à la communauté qui soient empreintes de
cette logique relationnelle.
Au gré de la première ethnographie jamais réalisée d'une population
dont l'attitude prend à contre-pied tous les attendus de l'anthropologie
américaniste, Oiara Bonilla s'attache à rendre intelligibles ces si
déroutants Paumari. Si déroutants, de fait, qu'à force de mettre en
œuvre leur politique de sujétion volontaire doublée d'une présentation
misérabiliste de soi, ces virtuoses de la dépendance s'imposeraient
finalement presque en maîtres du jeu.
Joana Miller, 2018. As Coisas - os enfeites corporais e a noção de pessoa entre os Mamaindê (Nambiquara). Rio de Janeiro, Mauad Editora.
A partir de um intenso diálogo com a literatura amazônica (com incursões
na Melanésia), e de um olhar atento às vidas cotidiana e ritual dos
Mamaindê, Joana Miller nos permite aceder à perspectiva dos xamãs,
revelando que, além dos ossos e órgãos que a nosso ver formam o interior
dos corpos, as pessoas são ali feitas de linhas que, na forma de
colares de contas, constituem, dentro do corpo, intrincados novelos, que
ligam não somente o interior ao exterior, mas também as pessoas entre
si e os vivos aos mortos.
Conduzido pela autora, por meio de
palavras escolhidas com precisão cirúrgica em uma prosa para lá de
agradável, o leitor percorre as informações históricas disponíveis sobre
o grupo e uma discussão da literatura antropológica voltada aos
Nambiquara até chegar ao tema que dá título ao livro.
As coisas,
objetos em geral, mas aqui especialmente cordões de contas produzidos
pelas mulheres a partir de cocos de tucumã, usados para enfeitar seus
filhos, maridos e parentes próximos, estão simultaneamente fora e dentro
do corpo, são colares, mas também são alma, espírito. Joana Miller nos
adverte: não se trata de representações ou metáforas, e os colares
externos não têm qualquer estatuto de realidade superior aos internos.
Se os enfeites de fora se partem ou são roubados por espíritos ou
inimigos, a perspectiva da vítima se desestabiliza, perde as suas
referências, justamente porque com eles se partem os enfeites internos,
que fazem dela um sujeito pleno, uma pessoa em meio aos seus.
Ana Claudia Cruz da Silva, 2016. Devir negro, Uma etnografia de encontros e movimentos afroculturais. Rio de Janeiro, Editora Papéis Selvagens.
Descrever
o que é um bloco afro no contexto do movimento afrocultural de
Ilhéus/Bahia é o objetivo desta obra. Para isso, começa pela descrição
dos agenciamentos que tornaram possível o nascimento do primeiro bloco
afro, o Ilê Aiyê, assim como de toda uma nova forma de ver e de viver o
mundo a partir dos encontros que 'reafricanizaram' o carnaval e a vida
de Salvador na década de 1970.
Antônio Rafael Barbosa, Brígida Renoldi & Marcos Veríssimo, 2014. (I)legal: Etnografias em uma fronteira difusa. Rio de Janeiro, Faperj/Eduff.
Trata-se de artigos gerados através de discussões promovidas em sucessivos encontros na área da antropologia sobre o que pode ser considerado "legal" e o que caracteriza o "ilegal" na sociedade.